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Tecendo Memórias, Gestando Futuro

TECENDO MEMÓRIAS, GESTANDO FUTURO

AUTORES: Padre José O. Beozzo, Irmãs: Raimunda Ribeiro da Costa, Maria Fidencio do Espírito Santo e Geralda Ferreira Silva

A história das Irmãs Negras, Missionárias de Jesus Crucificado (MJC), relatada neste livro tem um significado especial para quem está consciente do caminhar das realidades humanas, do reconhecimento da dignidade que compreende direitos e possibilidades iguais para toda pessoa. Do crescimento da compreensão do potencial latente em cada ser, que se desenvolve à medida que a sociedade, as organizações, os grupos e as pessoas abrem portas, espaços, e oferecem chances de “empoderamento”.


É importante perceber, ao longo da história, os  rocessos em gestação, em transformação, pedindo mudança, buscando novos horizontes. Nesta história contada, documentada e relatada, encontramos o deslanchar desses processos, sua luta consciente e esperançosa, o desafio de cada etapa superando conflitos e sabendo transformar cada passo em  um novo marco da caminhada.
A necessidade de conhecer, fazer memória e refazer a própria história foi a grande alavancada para buscar os meios necessários ao projeto, que foi tomado corpo e, passo a passo, concretizando-se através de mobilização e participação em eventos e movimentos em prol da consciência negra, do engajamento nas comunidades inseridas, da pesquisa séria em fontes seguras, da escuta, dos depoimentos, dos testemunhos, enfim, da fala e do sentir de quem, hoje, pode passar de novo pelo coração realidades vivenciadas e retomadas, tornando possível viver na esperança.

Este livro é como o germinar de uma nova semente, de um broto novo a surgir na história da vida de nossas Irmãs Negras. Nos quase vinte e cinco anos de buscas e desafios, dificuldades e vitórias, de um processo de libertação da discriminação sofrida que foi acontecendo com o despertar da consciência de serem mulheres negras em busca de suas raízes, da autoestima, da descoberta dos valores, do manejo dos saberes, do exercício da autonomia, do assumir da raça e etnia, de sua força e beleza cultural.


Utopia, determinação, perseverança, planejamento, organização e articulação garantiram a continuidade da caminhada. É o que sentimos ao ler o capítulo sobre a busca conjunta da Congregação com a sociedade e a Igreja. Lutas para criar espaço, visibilidade, apoio e reconhecimento, provocando reflexão, discernimento e decisões. Os encontros nacionais e regionais e suas assessorias, verdadeiro aprendizado e organização, liderança, responsabilidade e descoberta de dons, tudo acontecendo de maneira integrada, participativa e alegre, com atabaque, cantos e danças.

À medida que avançamos na leitura deste documentário, sentimos o valor de sua contribuição para todas nós, MJC, por nos permitir vivenciar as novas relações, tornando visível a luta contra a discriminação racial e social. Em meio a desafios, contradições e conflitos, as Irmãs Negras vão superando os limites provocados pela história: buscam capacitação, ultrapassam suas possibilidades, organizam-se, assumem a missão, serviços e funções dentro e fora da Congregação. Como pioneiras nessa caminhada, as MJC contribuem para o despertar do processo em outras congregações, na própria Igreja e na sociedade, abrindo espaço, sinalizando condições reais de transformação no campo das desigualdades sociais e culturais.


É preciso ler com o coração sob a luz e a força do Espírito, para sentir as missionárias negras envolvendo-nos num processo de reconciliação, mostrando-nos um caminho de respeito, de perdão, de igualdade de direitos, de justiça. Um processo de conversão vai acontecendo, as feridas vão sendo cicatrizadas; uma nova maneira de viver e sentir a própria caminhada vai tornando mais próxima a utopia e fazendo possível um outro
caminhar.