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Vocação Religiosa Consagrada é Sinal da Visita de Deus ao Seu Povo – Ir. Mercedes Lopes, MJC

Neste mês de agosto, dedicado às vocações, a Igreja nos convida a refletir no próximo domingo sobre a vida religiosa consagrada. A caminhada na Vida Religiosa Consagrada é marcada por diversas conexões e buscas que, ao longo do tempo, se revelam profundas e significativas. Em nossos dias, é inspirador observar grupos de jovens que, movidos pela fé, dedicam-se aos serviços comunitários em comunidades vulnerabilizadas. Esta presença jovem é, certamente, um sinal de esperança em um novo tempo. A entrega alegre e gratuita desde a juventude propicia um amadurecimento pessoal que possibilita novas e enriquecedoras relações. A diversidade de visões e experiências, embora possa gerar confrontos e crises, também levanta perguntas e proporciona descobertas. Esses desafios fazem parte da caminhada de uma fé libertadora e comprometida.

O crescimento pessoal é um processo que se dá nas relações em grupo. Neste processo, acolher questionamentos pode ser uma graça, uma oportunidade para descobrir caminhos significativos e realizar o sonho de Deus. Com olhos atentos e coração aberto, os jovens ouvem um chamado para curar as feridas da humanidade. Sentem o desejo de ser uma presença gratuita, amorosa e criativa, junto às pessoas fragilizadas. Essa vocação exige um contínuo discernimento.

Para contribuir nesse processo de discernimento, compartilho algumas reflexões que podem ajudar a descobrir os caminhos de Deus. Começo recordando que, no início do Evangelho de Lucas, temos dois grandes hinos. O primeiro é o canto de Maria (Lc 1,46-55) e o segundo, o de Zacarias (Lc 1,68-79). O conteúdo principal desses hinos é a realização das promessas de Deus e a manifestação de Seu coração misericordioso na pessoa de Jesus. Esses cantos revelam que Jesus é a presença de Deus no meio dos pobres. A vocação para a Vida Religiosa Consagrada tem esse sentido principal: seguir Jesus em comunidade, amando com gratuidade e servindo de acordo com o carisma de cada Congregação.

Lucas afirma que Deus visita e redime Seu povo (Lc 1,68; 7,16; 19,44) com “entranhas de misericórdia” (Lc 1,50.54.58.72.78; 15,4-32). Pela ação do Espírito, Deus se revela a todas as pessoas, por meio de Jesus e de suas relações com os sofredores de Seu tempo. A visita de Deus, em Jesus de Nazaré, é o início da salvação e da paz para todos os povos. “Todas as pessoas verão a salvação de Deus” (Lc 3,6; Is 40,3-5).

A proximidade misericordiosa de Deus, revelada em Jesus de Nazaré, é o tema central da parábola do bom samaritano (Lc 10,29-37), que interrompe sua viagem para socorrer um homem caído à beira da estrada. Jesus diz que “as entranhas do samaritano se comoveram” ao ver aquele homem ferido (Lc 10,33), e ele se aproximou, cuidando dele com atenção e carinho (v.34).

Ao contar essa parábola, Jesus provoca seus ouvintes a reconhecer que o samaritano praticou uma ação que é própria de Deus. Em seguida, Ele os envia com a missão de se fazerem próximos. A vocação para a Vida Religiosa Consagrada é um chamado para ser esse sinal da proximidade de Deus.

Foi o que aconteceu com Zaqueu, que, apenas buscando ver Jesus, subiu em uma árvore. Surpreendeu-se com a inédita proposta que Jesus lhe fez: “Zaqueu, desça depressa, porque hoje preciso ficar em sua casa” (Lc 19,5). Com imensa alegria, ele recebe a visita de Jesus e decide mudar completamente de vida. Por isso, Jesus disse: “Hoje, a salvação entrou nesta casa” (Lc 19,9-10). A visita gratuita e misericordiosa de Deus, em Jesus de Nazaré, é motivo de imensa alegria, não apenas para Zaqueu, mas para todo o povo (Lc 1,14; 2,10; 10,17; 24,41). A experiência da proximidade misericordiosa de Deus leva a multidão a vibrar de alegria e reconhecimento pelo dom recebido.

O dom mais desejado em nossos tempos é o da solidariedade próxima, sensível, delicada e contínua. Uma solidariedade que não se impõe, mas que acompanha ternamente as pessoas fragilizadas. Ajuda, partilha, cuida da vida fragilizada, mas o faz com simplicidade. Na Vida Religiosa Consagrada, a solidariedade se realiza em grupos articulados através de uma espiritualidade encarnada e comprometida, própria de cada Congregação, que brota de uma relação íntima com Jesus, presente no mundo, especialmente nas pessoas mais fragilizadas. Essa mística é o que marca a identidade de cada Congregação e sua missão na Igreja.

Ir. Mercedes Lopes, MJC