
Uma vez, quando ainda era pequena, li uma poesia chamada Além da Imaginação, de Ulisses Tavares. Do primeiro verso até o último, senti algo diferente no meu coração. Dois desses versos foram inesquecíveis.
Diziam assim:
“Tem gente passando fome, e não é a fome que você imagina entre uma refeição e outra.
Tem gente passando frio, e não é o frio que você imagina entre o chuveiro e a toalha…”
Esse incômodo interno era causa de inquietude. Ele me movia sem que eu entendesse o porquê, nem para onde. E foi assim que a dimensão do voluntariado entrou na minha vida — em fases, em ciclos e de maneiras diversas.
Porém, algo diferente aconteceu nos últimos anos, quando tive a oportunidade de conhecer as Missionárias de Jesus Crucificado. O carisma delas aquietou meu coração. Nele não havia ostentação, nem exigências difíceis. Era manso, delicado e simples. Era amor!

Mais surpresas estavam por vir na minha vida. No início do ano de 2025, as irmãs missionárias, eu e um grupo de amigos aceitamos, despretensiosamente, o desafio de servir como voluntários numa obra: oferecer almoço às pessoas em situação de rua na cidade de Campinas.
Contando com a providência divina, o grupo se colocou a serviço. Não tínhamos recursos financeiros, nem instrumentos adequados, nem mesmo um nome — mas a fé nos moveu adiante e nos mostrou que, quando você dá o passo, Deus coloca a estrada. E tudo iria dar certo.

Assim nasceu o Grupo Esperança, que, todo quarto domingo do mês, atende aproximadamente 230 pessoas em situação de rua, oferecendo um almoço feito com muito amor. Mas quem sai realmente preenchido somos nós, que, a cada um desses domingos, podemos sentir, naquelas mãos ásperas, não só a dureza de suas histórias, mas também, em cada olhar, muita doçura em suas almas — muitas vezes sedentas por atenção e amor.
Ana Cláudia Melo
