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A Terra como Altar: Mãos no Roçado, Coração na Missão – Ir. Denise de Sousa, MJC

A minha ligação com o MST se deu a partir da pandemia, quando fui convidada por Paulo Mansan, articulador e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) em Pernambuco, para participar dos Roçados Solidários nos assentamentos rurais. Para quem nasceu e cresceu na cidade, os roçados eram uma experiência e uma alternativa de saber de onde vêm os alimentos que consumimos. Ao mesmo tempo, era uma maneira de sairmos do medo da pandemia e fazermos terapia ao ar livre. Inicialmente, eu fiquei no grupo responsável por cortar as manivas de macaxeira e depois plantá-las na terra. Aquela tarefa para mim era simples, algo que eu já tinha experimentado na infância. Eu cresci vendo meus avós maternos realizando essa tarefa, assim como meu pai, meus irmãos, minha irmã mais velha e eu também.

Durante o segundo ano da pandemia, essa foi a minha terapia. Por um bom tempo, assumi a tarefa da ciranda (nome dado ao grupo de trabalho com as crianças). No entanto, como eu já trabalhava diariamente com crianças, passei a fazer parte do grupo de produção e do plantio de árvores. Lembro-me que, em uma tarde, plantamos 200 árvores. Além disso, tivemos o prazer de participar da procura da nascente das águas e fizemos o caminho da água até o local onde hoje é o açude. Foi um tempo sombrio, devido à pandemia, mas, por outro lado, foi onde me encontrei com a minha realidade. A natureza se tornou meu refúgio e a terra, minha aliada.

A pandemia, com suas incertezas e isolamento, me fez buscar refúgio na natureza. Nos roçados, encontrei paz e um sentido de propósito. A experiência nos levou a realizar as primeiras reuniões para elaborar o Projeto de Aquisição de Alimentos. Sonhávamos muito, mas não tínhamos noção da grandiosidade que seria esse programa. Hoje, o Centro Educacional Turma do Flau, através de Ir. Graça Cordeiro, vem dando continuidade com muito fervor ao PAA, assumindo de frente a missão de levar comida à mesa de mais de 500 famílias, através dos Bancos de Alimentos instalados nas periferias de Recife e região metropolitana, fortalecendo a agricultura familiar e garantindo a segurança alimentar de comunidades inteiras.

Além disso, há 14 Cozinhas Populares Solidárias que recebem semanalmente alimentos vindos dos pequenos agricultores. O governo federal valoriza os pequenos agricultores, pagando-lhes de forma justa pelo que produzem, e as pessoas nas periferias alimentam-se de produtos de boa qualidade. O Centro Educacional Turma do Flau tem sido a instituição guarda-chuva para as comunidades que precisam de alimentos.

Em vez de me aprisionar, a pandemia me levou a uma jornada de descoberta e conexão com a terra. As mãos calejadas, o cheiro da terra úmida e o sol a nos aquecer eram sensações que me conectavam profundamente com a natureza e com minhas raízes. Como Missionária de Jesus Crucificado, sinto-me honrada em fazer parte dessa jornada de solidariedade e em contribuir para um mundo mais justo e sustentável.

Ir. Denise de Sousa, MJC