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A Mulher e a Terra: Fontes de Vida e Resistência – Ir. Zélia Gomes, MJC

A terra cumpre a função de um útero: é o lugar que recebe a semente, abriga-a e nutre-a até o momento em que a vida floresce. Quando a semente se transforma em uma pequena e frágil planta, a Mãe Terra acompanha seu crescimento, fornecendo apenas o necessário, nem mais, nem menos, permitindo que essa planta se torne uma imensa árvore. Mesmo quando a árvore cresce e se fortalece, tornando-se um ser cheio de vida, utilidade e beleza, a terra continua a sustentá-la através de suas raízes, em uma conexão profunda e quase invisível, garantindo seu equilíbrio até o fim de sua existência.

O mesmo processo ocorre com a mulher quando ela decide gerar vida. E, assim como a Mãe Terra, a mulher também é chamada a nutrir sem sufocar, a amar sem aprisionar, a fortalecer sem impedir a liberdade. Há muito que as mulheres podem aprender com a terra: ela não domina sua descendência, não a sobrecarrega, não a superprotege nem a impede de crescer de forma independente. A terra gera vida para o planeta; as mulheres, para quem?

Toda mulher é geradora de vida, mesmo aquelas que escolhem gerar fora do útero físico. Em cada mulher habita um útero simbólico – o espaço da entrega incondicional, do cuidado que fortalece, da doação que liberta. Que transformação poderosa acontece quando a vida é gerada tanto no ventre físico quanto no ventre simbólico! No entanto, muitas mulheres que não desejam gerar biologicamente ainda enfrentam a imposição de normas culturais que reduzem a maternidade a uma obrigação, negando-lhes a liberdade de escolher seu próprio caminho.

A terra e a mulher compartilham muitas semelhanças: ambas geram, nutrem, sustentam. Ambas carregam histórias de lutas, alegrias e resistências. Mas também compartilham um passado de agressões, exploração e violência – ambas, tantas vezes, tratadas como mercadorias, espoliadas de seus recursos e feridas em sua dignidade. A sociedade que abusa das mulheres é a mesma que abusa da terra.

Por isso, tenho uma profunda esperança: a salvação da terra passará pelo útero e pelos braços das mulheres. Porque ambas se compreendem. Ambas se reconhecem. E juntas, têm o poder de gerar um mundo novo.

Ir. Zélia Gomes, MJC