Maria Madalena nasceu na Palestina, em uma aldeia portuária chamada Magdala, situada às margens do lago de Genesaré. Naquela época, era comum identificar as mulheres pelo nome do esposo ou dos filhos. No entanto, Maria era identificada pelo seu lugar de origem: Magdala. Este detalhe nos leva a intuir que Maria Madalena era uma mulher independente e conhecida. Magdala ficava entre as cidades de Cafarnaum e Tiberíades. Quando Jesus sentiu que era o momento de iniciar sua missão, saiu de Nazaré e foi para Cafarnaum. Às margens do Mar da Galileia, Jesus começou a organizar uma comunidade de discípulos e discípulas que o seguiam como um primeiro sinal da Boa Nova que anunciava. Seguido por este grupo, Ele caminhava de povoado a povoado, anunciando o Reino de Deus e curando as pessoas de doenças físicas e psíquicas. Maria Madalena foi curada por Jesus e passou a segui-lo como discípula.
Os quatro evangelhos canônicos citam onze vezes o nome de Maria Madalena. Ela é a mulher mais citada nos Evangelhos. Em todas as citações onde os evangelistas indicam a participação das mulheres no seguimento de Jesus como discípulas, Maria Madalena é mencionada em primeiro lugar (Lc 8,1-3). Este é um detalhe que indica sua importância e liderança no movimento de Jesus. Ela foi a discípula fiel que o acompanhou durante toda sua missão da Galileia até Jerusalém. Maria de Magdala não fugiu quando Jesus foi preso, torturado e condenado à morte de Cruz. Ela ficou de pé, com a Mãe de Jesus e outra discípula ao pé da cruz (Jo 19,25). Discípula amada que não somente esteve presente na tortura e assassinato de Jesus, mas permaneceu junto ao seu túmulo, fiel mesmo depois de morto (Mc 15,47; Mt 27,61).
As narrativas da madrugada da Ressurreição (Mc 16,2; Mt 28,1-8; Lc 24,1-10) apresentam a amizade das mulheres que foram até o túmulo onde o corpo de Jesus havia sido colocado. Elas voltaram para preparar perfumes e Maria Madalena ficou sozinha junto ao sepulcro, na escura madrugada, ao contrário de muitos que abandonaram Jesus durante e após a sua crucificação. Ela chora e espera. Jesus aparece e a chama pelo nome: “Maria!”. Madalena quer abraçá-lo, mas Jesus a envia com uma mensagem para os Onze, dizendo-lhes que está vivo e quer encontrá-los na Galileia. Ela fez a experiência mística da Ressurreição de Jesus, podendo afirmar aos outros discípulos com toda convicção: “Vi o Senhor!” (Jo 20,11-18). Por isso, a Igreja Oriental sempre celebrou Maria Madalena como Apóstola dos Apóstolos, porque foi enviada por Jesus Ressuscitado com uma mensagem para os Onze discípulos (Mt 28,10; Jo 20,17-18).
Com o passar do tempo, a discípula e apóstola de Jesus foi transformada em pecadora arrependida, uma amostra do medo que o patriarcado tem de perder o poder. Se a memória de Santa Maria Madalena Apóstola permanecesse sem essa distorção histórica, haveria o perigo de que as mulheres cristãs descobrissem a sua importância nas origens do cristianismo e assumissem com autoridade, dignidade e pleno direito seus espaços de reflexão e decisão. Memória perigosa que poderia animar algumas mulheres a reivindicar, também, o direito ao ministério ordenado nas igrejas cristãs.
A memória de Maria Madalena inspira as Missionárias de Jesus Crucificado a superar preconceitos, desde a sua fundação em 1928. Ela nos convida a ser um sinal do gratuito amor de Deus na caminhada do povo e criativas na construção dos espaços de sinodalidade amiga. Em meio às divisões e violências do momento atual, Santa Maria Madalena quer ajudar pessoas excluídas a se experimentarem amadas. Ela nos confirma que a mansidão amorosa e ativa congrega diversidades de gênero, etnia e classe social na luta por justiça, solidariedade e igualdade, para que a vida sobreviva em nosso planeta.
Santa Maria Madalena, primeira testemunha da Ressurreição, missionária fiel do anúncio da Boa Nova e Apóstola dos Apóstolos, rogai por nós!
Ir. Mercedes Lopes, MJC