No dia 29 de setembro de 1927, Maria Villac, fundadora da Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado (MJC), deu o seu “sim” definitivo, respondendo ao convite de Deus para fundar uma nova congregação religiosa. Essa decisão, marcada por profunda reflexão e oração, tornou-se um marco na história da congregação e na vida de tantas mulheres que, como ela, se dedicaram à missão de servir aos mais necessitados, com uma visão contemplativa e missionária.
Nascida em Campinas, São Paulo, em 26 de fevereiro de 1894, Maria Villac, descendente de imigrantes suíços, viveu a angústia de um mundo marcado pela Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Profundamente tocada pelo sofrimento que assolava a Europa, especialmente por ser o continente de origem da sua família, ela sentiu o chamado para responder aos apelos de Deus e ao sofrimento ao seu redor. Chegou a desejar entrar em um mosteiro na Europa, onde vivia sua tia, mas a guerra impediu sua viagem. Em meio a esses desafios, Maria se dedicava à oração e à ajuda aos pais no hotel que a família possuía em Campinas, além de acompanhar seus irmãos nos estudos.
A devoção de Maria Villac foi profundamente inspirada pela paixão de Cristo, que iluminava suas decisões e ações. Após o falecimento de seu pai, que era vicentino, ela se dedicou ainda mais ao compromisso de estar ao lado dos mais pobres. Em 1917, Maria iniciou a reunir semanalmente suas amigas para momentos de oração, especialmente a Via Sacra. O grupo, que inicialmente focava na oração, logo ampliou suas atividades, passando a visitar os pobres e enfermos que viviam em condições precárias nas periferias de Campinas e São Paulo, devido ao crescimento provocado pela industrialização. Além de oferecer catequese, as mulheres também forneceram formação laboral, ajudando a enfrentar os desafios sociais da crescente industrialização e migração em busca de emprego.
O grupo fundado por Maria Villac, chamado Associação das Missionárias de Jesus Crucificado, crescia a cada dia, unindo fé e ação. A dedicação, a oração e o serviço às comunidades mais pobres atraíam cada vez mais participantes, e a espiritualidade do grupo chamou a atenção do bispo de Campinas, Dom Francisco de Campos Barreto. Em 1927, com o grupo já contando com 364 membros, o bispo pretendia transformar a Associação em uma Congregação Religiosa, com uma missão clara: que as religiosas, sem hábito, fossem ao encontro dos mais necessários, com amor e dedicação. A Congregação seria marcada por uma espiritualidade contemplativa e missionária.
No dia 6 de setembro de 1927, Maria Villac foi ao encontro de Dom Barreto para a aprovação do calendário de orações do grupo, mas o bispo aproveitou a oportunidade para compartilhar seu sonho de transformar a Associação em uma Congregação. Maria decidiu com paciência e respeito, mas pediu tempo para discernir a proposta. Após um período de intensa oração e reflexão, no dia 29 de setembro de 1927, Maria deu seu “Sim” a Deus e ao bispo, aceitando o desafio de fundar a Congregação das Irmãs Missionárias de Jesus Crucificado.
O “Sim” de Madre Maria Villac foi um ato de coragem e fé, que abriu novos caminhos para inúmeras pessoas. Essa resposta generosa, dada em um momento de grandes desafios, continua a ecoar na vida de milhares de irmãs e leigos(as) que, inspirados por sua espiritualidade, seguem sua missão de amor e serviço.
A Congregação foi oficialmente fundada no dia 3 de maio de 1928, com a participação de onze irmãs. Naquele período, a Igreja Católica no Brasil também vivia a Ação Católica, que incentivava a participação de leigos no apostolado pelo método. A Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado contribuiu fortemente para a formação e o acompanhamento de movimentos como a JOC (Juventude Operária Católica), JUC (Juventude Universitária Católica), JEC (Juventude Estudantil Católica) e outros. Hoje, a presença MJC se mantém viva nas Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), no movimento bíblico, nas pastorais sociais e nas lutas pela vida e pela justiça.
Pronunciado em tempos de guerra, pobreza e desigualdade, o “Sim” de Maria Villac permanece um exemplo de espera, mansidão e amor sem medida. Sua espiritualidade, sustentada por uma profunda confiança na providência divina, inspira-nos até hoje. Como ela mesma escreveu em uma carta datada de 6 de junho de 1945: “Precisamos viver revestidos de paciência e de segurança, sabendo ver em tudo a mão de Deus. Os sofrimentos permitidos por Deus são para o nosso bem”.
A Congregação das Missionárias de Jesus Crucificado louva a Deus pelo “Sim” de Madre Maria Villac, um testemunho vivo de fé que continua a transformar vidas e trabalhar pela construção do bem comum, da justiça social e da paz.